Índia recebe cúpula do G20 com divisões sobre a Ucrânia e o clima
O presidente dos Estados Unidos e outros líderes do G20 chegam nesta sexta-feira (8) a Nova Délhi para participar, no fim de semana, de uma reunião de cúpula em que a Índia tentará iniciar um diálogo sobre a Ucrânia e a mudança climática, apesar das ausências de Vladimir Putin e Xi Jinping.
Os governantes estão divididos sobre temas cruciais, como a invasão russa da Ucrânia, a meta de abandonar gradualmente os combustíveis fósseis e a reestruturação da dívida mundial, o que dificulta a publicação de uma declaração final no domingo (10).
A América Latina estará representada pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, cujo país assumirá a presidência do bloco depois da Índia, e pelo argentino Alberto Fernández.
O presidente americano, Joe Biden, decolou da base aérea Andrews, perto de Washington, e deve chegar a Nova Délhi às 18H15 (10H45 de Brasília) desta sexta-feira.
A estadia de Biden na Índia começará com uma reunião bilateral com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, a quem recebeu com grande pompa em junho na Casa Branca.
O governo dos Estados Unidos tenta fortalecer os vínculos com a Índia em meio a uma disputa com a China, enquanto Nova Délhi tenta consolidar sua liderança internacional.
E tudo isso apesar das divergências sobre a Rússia pela recusa da Índia em participar nas sanções impostas contra Moscou pela invasão da Ucrânia, assim como sobre os direitos humanos.
- EUA monitora indicadores da China -
A ausência de dois governantes muito influentes como Putin e Xi, que atuam com frequência como contrapeso, deixam o caminho livre para que Biden tenha um papel central na cúpula.
A Rússia será representada pelo ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, que já está na Índia, e a delegação chinesa será liderada pelo primeiro-ministro Li Qiang.
Biden chegará à Índia em um momento importante no xadrez de alianças geopolíticas, com a guerra na Ucrânia como pano de fundo, além da China, que busca consolidar sua influência e desafia cada vez mais Washington.
O presidente americano espera aproveitar o encontro de cúpula para demonstrar que o bloco, apesar das divisões, continua sendo o principal fórum de cooperação econômica mundial.
O governo dos Estados Unidos monitora "cuidadosamente" os desafios econômicos da China, como o consumo interno mais frágil que o esperado, o endividamento do setor imobiliário e os desafios demográficos, destacou em Nova Délhi a secretária do Tesouro, Janet Yellen.
A secretária americana disse que tem consciência do risco da situação chinesa para o crescimento mundial, mas afirmou que, "em geral, a economia global tem sido resiliente".
Ela acrescentou que "a influência negativa mais importante é a guerra russa na Ucrânia".
- Um bloqueio 'escandaloso' -
O G20 parece dividido sobre a invasão russa do território ucraniano. Além disso, vários países em desenvolvimento do grupo estão mais preocupados com os preços dos grãos que com as condenações diplomáticas a Moscou.
Os esforços de Modi para que os líderes do G20 evitem as divisões e abordem os problemas mundiais cruciais, em particular a reestruturação da dívida mundial e a volatilidade dos preços das commodities após a invasão da Ucrânia, não apresentaram resultados nas reuniões ministeriais anteriores ao encontro de cúpula.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, declarou nesta sexta-feira à imprensa que é "francamente escandaloso que a Rússia, depois de acabar com a iniciativa de grãos no Mar Negro, bloqueie e ataque os portos ucranianos".
Modi também reafirmou na quinta-feira o desejo de expandir o G20 com "a inclusão da União Africana como membro permanente".
"Estou muito satisfeito de receber a União Africana como membro permanente do G20 e estou orgulhoso por a UE ter reagido imediatamente de forma positiva para apoiar esta candidatura", disse Michel.
"Vamos esperar para ver qual será a decisão, mas uma coisa está: a UE apoia a adesão da África ao G20", acrescentou.
O chefe de Governo indiano também pediu aos líderes do G20 que apoiem "financeira e tecnologicamente os países em desenvolvimento na luta contra a mudança climática".
(L.Kaufmann--BBZ)