Demi Moore 'sempre esteve aqui', diz diretora de 'A Substância'
A vitória de Demi Moore no Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia por “A Substância” fez com que ela se tornasse favorita ao Oscar quase da noite para o dia.
Em seu discurso de agradecimento no domingo, Demi Moore, de 62 anos, que já foi manchete por sua vida amorosa, capas de revistas e papéis principais em filmes de grande sucesso, disse que por muito tempo foi descartada como “atriz pipoca” e que nunca “ganhou nada como artista”.
No entanto, para Coralie Fargeat, a diretora francesa que também escreveu o novo filme de terror corporal (body horror) que trouxe Moore de volta, não há nada de surpreendente no reconhecimento que sua protagonista está recebendo nesta fase de sua carreira.
“É muito emocionante ver Demi naquele palco”, disse a cineasta à AFP na segunda-feira (6).
O filme permite que o público “veja quem ela é como atriz, sem projetar o estereótipo de que ‘se você é bonita, não pode ser boa atriz’”, disse ela.
“Eles estão falando sobre seu retorno, mas ela sempre esteve aqui”, enfatizou Fargeat.
A obsessão da sociedade em classificar as mulheres e colocar um prazo de validade nelas é a premissa central de “A Substância”.
No filme, distribuído globalmente pela MUBI, Elisabeth (personagem de Moore) é uma estrela em declínio que é abruptamente demitida de seu programa de TV no dia de seu aniversário de 50 anos.
Em desespero, ela recorre a uma substância misteriosa que lhe permite viver em um corpo mais jovem, com uma condição: ela deve alternar semanalmente entre a nova figura e sua fisionomia real.
A tentação de permanecer jovem se torna muito forte, especialmente para o alter ego de Elisabeth, uma jovem deslumbrante e ambiciosa que é catapultada para a fama por executivos sinistros.
- "Boas atuações" -
Fargeat é fã do trabalho de Moore, que inclui sucessos como “Proposta Indecente” e “Ghost, do Outro Lado da Vida”, assim como o mais polarizador “Até o Limite da Honra” (“G.I. Jane”).
“Posso gostar ou não dos filmes, mas suas atuações sempre foram boas”, disse ela.
No entanto, a vida de Moore também “representou essa estrela icônica” em “A Substância”.
“Alguém que foi valorizado por esse sonho, essa falsa promessa de que se você for jovem e bonito, será feliz e bem-sucedido”, disse Fargeat.
“E quando isso desaparece, é como se sua vida inteira desaparecesse”, acrescentou.
Apesar disso, a escolha de Moore para o papel de Elisabeth quase foi frustrada.
A princípio, Fargeat supôs que a atriz não estaria interessada em um papel que exigia nudez e inúmeras cenas sangrentas e decadentes.
Mas então ela leu “Inside Out”, a biografia de Moore publicada em 2019, na qual ela fala sobre suas batalhas contra o preconceito de idade e a misoginia, além de vícios, abusos e separações altamente divulgadas.
“Quando li o livro, realmente senti que ela estava pronta para assumir o tipo de risco que o filme exigia”, disse Fargeat.
As primeiras conversas giraram em torno da grande quantidade de nudez completa, talvez pouco favorecedora, que a visão de Fargeat exigia.
“O filme é realmente sobre os corpos das mulheres. Eu queria contar minhas histórias de forma carnal”, disse a cineasta.
Fargeat também admite que foi uma diretora exigente e meticulosa no set, o que exigiu “muitas tomadas”.
Moore comentou sobre ter perdido nove quilos e contraído herpes zoster devido à intensidade das filmagens, enquanto a coestrela Margaret Qualley descreveu os trajes protéticos como uma “tortura” que provocava ataques de pânico.
“Se o protagonista não estiver preparado para ir tão longe, o filme todo se desfaz”, disse Fargeat.
Moore “assumiu o risco de seguir a visão do filme (...) isso vale muito”, acrescentou.
- Oscar -
Com a vitória no Globo de Ouro, “A Substância” ganhará mais visibilidade, tanto do público quanto dos votantes do Oscar, que escolherão seus indicados nesta semana.
Fargeat pode ser indicada para Melhor Diretora e Melhor Roteiro, enquanto o filme pode concorrer a Melhor Filme.
Agora, alguns estão apostando que Moore lutará pela estatueta de Melhor Atriz.
“Desde o início, acreditei que isso poderia acontecer”, disse Fargeat. ”É disso que se trata o cinema, criar coisas que as pessoas não esperam.”
“Sinto-me muito orgulhosa por ter criado isso”.
(A.Lehmann--BBZ)