BHP quer adiar julgamento em Londres por desastre ambiental em Mariana
A mineradora anglo-australiana BHP defendeu, nesta quinta-feira (20), diante de um tribunal em Londres, a necessidade de adiar para 2025 o julgamento no qual cerca de 700 mil atingidos pela ruptura da barragem de rejeitos de Fundão, em Mariana (MG), reivindicam US$ 44 bilhões (cerca de R$ 222 bilhões na cotação atual) em compensações.
Em dezembro, uma juíza da divisão comercial da Alta Corte londrina marcou para 9 de abril de 2024 o início do julgamento que deveria levar oito semanas.
Contudo, em uma nova audiência nesta quinta, os advogados da mineradora argumentaram que "é necessário mais tempo para apresentar as provas factuais e periciais", dada a discrepância entre as partes sobre as causas da catástrofe.
A BHP apresentou um pedido de adiamento para 2025 alegando que precisará de mais tempo para proporcionar os elementos factuais sobre a gestão da barragem e as análises geotécnicas, assim como informações sobre estruturas hierárquicas e as comunicações internas da empresa que foram solicitadas pelos demandantes.
A juíza deve anunciar sua decisão dentro de algumas semanas.
A BHP é objeto de uma ação coletiva em Londres de 700 mil pessoas e entidades por sua qualidade de coproprietária, ao lado da brasileira Vale, da mineradora Samarco, responsável pela gestão da barragem de Fundão no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), que colapsou em 5 de novembro de 2015.
O desastre, considerado a pior tragédia ambiental do Brasil, causou a morte de 19 pessoas e a destruição de áreas protegidas, entre as quais está a terra indígena do povo Krenak, que figura entre os demandantes.
O rompimento da barragem liberou quase 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério altamente tóxicos que cobriram por completo o distrito de Bento Rodrigues.
Além disso, o tsunami de lama tóxica se estendeu até o Oceano Atlântico, percorrendo 650 km pelo leito do Rio Doce.
O escritório de advocacia britânico Pogust Goodhead, que representa os mais de 700.000 demandantes, que também incluem dezenas de municípios brasileiros, milhares de empresas e milhares de membros de diferentes comunidades indígenas, estima os prejuízos somados aos juros acumulados em 36 bilhões de libras (mais de 222 bilhões de reais).
Para manter o início do julgamento em abril de 2024, o escritório propôs a divisão do processo em duas partes, reconhecendo hoje que a primeira delas poderia necessitar de entre 10 e 12 semanas.
Contudo, os advogados argumentam que, após superar uma longa via-crúcis legal iniciada em 2018 em um tribunal de Liverpool, no noroeste da Inglaterra, a maior ação coletiva apresentada na história da Justiça britânica não pode mais sofrer adiamentos.
Quanto mais tempo demorar, alegam os advogados do Pogust Goodhead, maior é o risco de os responsáveis da mineradora perverterem a memória de como ocorreu a tragédia.
(O.Joost--BBZ)