Chega ao G20 ideia de arrecadar US$ 250 bi com taxação anual de super-ricos
O economista francês Gabriel Zucman apresentou, nesta quinta-feira (29), às autoridades das principais economias do planeta uma ideia para gerar 250 bilhões de dólares (R$ 1,24 trilhão) por ano para os cofres públicos de todo o mundo: taxar os super-ricos com um imposto sobre a riqueza.
Zucman, de 37 anos, ex-discípulo do renomado economista e especialista em desigualdade Thomas Piketty, foi convidado para explicar sua pesquisa sobre sonegação fiscal dos super-ricos em uma cúpula de ministros das Finanças do G20, que avalia formas de abordar o assunto.
Em entrevista com a AFP à margem dos encontros em São Paulo, o professor da universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, e da Paris School of Economics comentou como bilionários como Elon Musk e Jeff Bezos evitam pagar impostos de renda, como mudar isso e por que os líderes mundiais devem fazê-lo rapidamente para salvar a democracia.
Pergunta: Como se justifica um imposto mínimo para os super-ricos?
Resposta: Há cada vez mais provas de que os sistemas tributários, ao invés de serem progressivos, tendem a ser fortemente regressivos nos escalões mais altos (...) A explosão da riqueza extrema é uma das características que definem a economia mundial. É evidente. E o fato de que estes bilionários pagam muito pouco em impostos se tornou cada vez mais óbvio nos últimos anos.
Uma proposta concreta é que os bilionários paguem a cada ano um imposto de renda equivalente a pelo menos 2% de sua riqueza. Diferentemente da renda, a riqueza é muito bem definida.
Há no mundo cerca de 3.000 pessoas com (fortunas de) bilhões de dólares (...) Isso geraria cerca de 250 bilhões de dólares (R$ 1,24 trilhão) em receitas fiscais adicionais em nível global.
Segundo as melhores estimativas que temos, os países em desenvolvimento precisam de aproximadamente US$ 500 bilhões (cerca de R$ 2,5 trilhões) adicionais para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. Sendo assim, podemos obter metade disso apenas com este imposto mínimo aos bilionários.
Pergunta: Como os ministros do G20 reagiram?
Resposta: Hoje é realmente a primeira vez que houve uma discussão como essa em um fórum como o G20. E fui surpreendido pelo fato de que muitos países expressaram apoio à visão de que sim, deveríamos ter acordos internacionais para taxar os super-ricos, aumentar a progressividade fiscal e lutar contra a desigualdade. Penso que é um avanço muito positivo.
É apenas o começo de uma conversa. Tem que haver uma discussão inclusiva e mais estudos para ter os detalhes.
Pergunta: Obviamente, muitos bilionários vão odiar a ideia. Que mensagem manda para eles? Tem medo de incomodar pessoas tão poderosas?
Resposta: É bom que a odeiem porque isso mostra que de fato fará a diferença.
De fato, este será o único imposto que será muito difícil para eles sonegarem. O imposto de renda é muito fácil de sonegar. (Os super-ricos) também são muito bons em sonegar o imposto sobre as heranças ou o imposto estatal. Portanto, sim, vão resistir.
Mas o que mais temo são as consequências da inação. Penso que é mais arriscado continuar (com a tendência atual) de um aumento da concentração da riqueza e uma injustiça social.
É pouco provável que as desigualdades que temos hoje (...) sejam muito sustentáveis. São corrosivas para a democracia.
(L.Kaufmann--BBZ)