Copom reduz taxa Selic para 10,75% e confirma 'desinflação'
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil voltou a reduzir, nesta quarta-feira (20), sua taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto percentual, para 10,75%, devido à continuidade do processo de "desinflação" na economia.
O Copom anunciou o sexto corte consecutivo da Selic, em linha com as expectativas do mercado, em um comunicado no qual destacou que o atual cenário global desafiador exige "serenidade e moderação" na política monetária.
A Selic se situa, assim, em seu menor nível desde fevereiro de 2022, quando estava em 9,25%.
A economia "manteve trajetória de desinflação", sublinhou o Copom após sua segunda reunião do ano. Ao mesmo tempo, a inflação subjacente, que exclui preços voláteis como os dos alimentos e energia, situou-se "acima da meta" projetada.
A entidade havia antecipado a manobra em janeiro, ao prever um ajuste da mesma magnitude nesta reunião de março, após reduzir a Selic em meio ponto percentual, a 11,25%.
Umas 135 instituições financeiras e consultorias consultadas pelo jornal econômico Valor também esperavam a mesma decisão do Copom.
A Selic chegou a bater 13,75% em agosto de 2023.
O Comitê espera realizar uma "redução da mesma magnitude na próxima reunião", no início de maio, acrescentaram as autoridades em um comunicado.
- Tensões -
O Copom conduz a política monetária nacional levando em conta particularmente o curso da inflação.
Juros altos encarecem o crédito e desestimulam o consumo e os investimentos, diminuindo, assim, a pressão sobre os preços.
O ritmo de cortes adotado pelo Copom incomoda o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que quer incentivar o crescimento econômico, em um momento em que perdem força motores-chave da economia, como o agronegócio, grande responsável pela expansão do PIB de 2,9% em 2023.
Lula, que não vê motivos para não acelerar a queda da Selic, culpou o Banco Central de causar um "atraso do crescimento econômico".
Em postura similar, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), se queixou da redução da Selic, que considerou "insuficiente" e avaliou que "penalizará ainda mais a atividade econômica no Brasil".
O país se mantém na segunda posição do ranking global com as maiores taxas de juros (descontando a inflação projetada em 12 meses), atrás apenas do México, segundo o site MoneYou.
Mas as autoridades do Copom, que reconhecem uma "desaceleração na economia", mantiveram firme sua posição cautelosa frente às pressões do governo.
Os preços no varejo subiram 0,83% em fevereiro, acima do nível de janeiro (0,42%), e a inflação em 12 meses situou-se em 4,50%.
O dado causou inquietação, especialmente devido aos preços dos alimentos, que acumularam altas de 2,34% nos primeiros dois meses de 2024, quase o dobro do índice geral (1,25%).
- Processo lento -
O Copom voltou a advertir, em seu comunicado, que o processo de desinflação "tende a ser mais lento" nesta etapa.
As projeções do mercado para o ano subiram levemente esta semana para 3,79%, segundo o boletim Focus do Banco Central.
O número é próximo da meta de 3% do Banco Central e está dentro dos limites estabelecidos de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
O Copom também está de olho no horizonte inflacionário para 2025, com estimativas de 3,2% para o ano que vem.
Também nesta quarta, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) decidiu manter sua taxa básica de juros na faixa de 5,25% a 5,50%.
As autoridades brasileiras, sintonizadas com o mercado, preveem que a Selic chegará a 9% ao final deste ano, segundo o boletim Focus.
(Y.Berger--BBZ)