Acordo sobre orçamento gera motim republicano no Congresso dos EUA
O Congresso dos Estados Unidos tem poucas horas para aprovar um acordo sobre o orçamento federal que enfureceu alguns republicanos até o ponto de iniciarem um processo de destituição contra uma liderança de seu próprio partido.
Os debates em torno da aprovação dessa lei de finanças de 1,2 bilhão de dólares (cerca de R$ 6 bilhões) alimentaram disputas fratricidas entre os republicanos, que causam estragos em Washington há meses.
O Congresso tem até a meia-noite (01h00 de sábado em Brasília) para aprovar o orçamento e evitar o fechamento de algumas administrações do Estado federal.
O texto foi aprovado pela manhã, por margem estreita, na Câmara dos Representantes. Mas ainda não se sabe se obterá luz verde do Senado. Isso alimenta o temor de que o Estado federal fique paralisado, embora de forma bastante temporária, o que se conhece em inglês como "shutdown".
- Destituição? -
Em pleno ano eleitoral, este orçamento foi objeto de um longo enfrentamento entre o Partido Democrata do presidente Joe Biden e os republicanos.
Os negociadores da Casa Branca e do Congresso finalmente entraram em acordo sobre um texto, revelado na noite de quarta-feira.
Mas a proposta foi imediatamente criticada por congressistas simpatizantes do ex-presidente republicano Donald Trump, que defendem uma ortodoxia orçamentária bastante rígida.
Além disso, a congressista Marjorie Taylor Greene apresentou uma "moção" para destituir o presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson. Ela o acusa de "traição ao povo americano".
O anúncio caiu como uma bomba política em Washington, apesar de Greene não ter estabelecido um calendário para o voto de destituição, que classificou como uma "advertência".
É que isso traz lembranças de semanas de caos. O ex-presidente da Câmara Kevin McCarthy foi destituído há poucos meses em um cenário muito parecido. Vai acontecer o mesmo com Johnson?
A aprovação dos orçamentos gera grande tensão nos Estados Unidos.
A lista de consequências do "shutdown" é longa: militares e agentes de segurança não recebem seus salários, os escritórios públicos e parques nacionais permanecem fechados, ajuda alimentar não chega a seu destino, entre outras.
É uma situação extremamente impopular cujos efeitos serão sentidos já no início da próxima semana.
- Financiamento da UNRWA -
Caso seja aprovado no Senado, o projeto de lei apresentado na quinta-feira estenderia o orçamento americano até o fim do ano fiscal, em 30 de setembro.
O texto, de 1.012 páginas, contém medidas com fortes repercussões no exterior.
O projeto proíbe qualquer financiamento direto dos Estados Unidos à agência da ONU para os refugiados palestinos, a UNRWA, que esteve no centro de uma controvérsia desde que Israel acusou, em janeiro, 12 de seus 13.000 funcionários de envolvimento no ataque do movimento islamista palestino Hamas em 7 de outubro.
A medida foi amplamente criticada pela ala esquerda do Partido Democrata.
Também destina centenas de milhões de dólares a Taiwan, mas não desbloqueia recursos para a Ucrânia.
Além disso, o texto contém várias medidas relacionadas com a migração, um tema explosivo em plena campanha presidencial.
Entre outras coisas, a iniciativa prevê a contratação de dezenas de milhares de agentes para a patrulha de fronteira.
Para finalizar o orçamento, o projeto de lei incorpora uma série de medidas, não necessariamente vinculadas ao orçamento, como a proibição das embaixadas americanas de hastear a bandeira arco-íris da comunidade LGBTQIA+, algo que algumas costumavam fazer em datas específicas.
Um texto aprovado em 9 de março já havia garantido outra parte do orçamento de 2024.
(Y.Berger--BBZ)