Combates prosseguem no Sudão e negociações de trégua acontecem em sigilo
Os combates prosseguiam neste domingo (7), ao mesmo tempo que representantes do exército e dos paramilitares, em conflito pelo poder, não divulgaram nada sobre as negociações de cessar-fogo em curso na Arábia Saudita.
Como a cada dia desde o início dos conflitos em 15 de abril, o barulho dos combates é ouvido em diversos pontos da capital, Cartum, onde os cinco milhões de habitantes sobrevivem trancados em suas casas com medo das balas perdidas, sem água e energia elétrica em vários bairros e com poucas reservas de alimentos ou dinheiro.
Fontes do governo dos Estados Unidos e da Arábia Saudita afirmam que os beligerantes estão negociando uma trégua na cidade saudita de Jidá. Mas nem o exército, do general Abdel Fatah al Burhan, nem as Forças de Apoio Rápido (FAR), do general rival Mohamed Hamdan Daglo, revelam qualquer coisa sobre as conversações entre seus enviados.
"A delegação do exército só falará sobre a trégua e como aplicá-la corretamente para facilitar o acesso humanitário", limitou-se a declara à AFP o general Nabil Abdallah, porta-voz do exército.
Os paramilitares das FAR não falaram nada sobre as negociações, que acontecem após uma série de tréguas anunciadas e sistematicamente violadas nas últimas semanas.
Riad e Washington não anunciaram nem o início formal das negociações na cidade saudita de Jidá nem o conteúdo exato das conversações.
Ao mesmo tempo, moradores relataram à AFP combates e ataques aéreos em diversos bairros de Cartum.
A guerra deixou até o momento pelo menos 700 mortos, quase 5.000 feridos e mais de 335.000 deslocados.
Aly Verjee, pesquisador da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, afirmou que para que um cessar-fogo seja respeitado, ao contrário dos anteriores, será necessário especificar os detalhes operacionais e aplicar mecanismos de observação e sanções.
"É necessário um marco geográfico e operacional do cessar-fogo, que inclua a o fim dos ataques aéreos ou a retirada dos combatentes das infraestruturas civis, como os hospitais", declarou o pesquisador à AFP.
Antes de entrar em conflito aberto, os generais Al Burhan e Daglo executaram um golpe de Estado em conjunto para expulsar os civis do poder em outubro de 2021.
Dois anos antes, sob a pressão dos protestos nas ruas, o exército derrubou o ditador Omar al Bashir, que estava no poder há três décadas.
Mas as esperanças de uma transição para a democracia acabaram com o golpe de 2021. E as negociações com mediação internacional para integrar os paramilitares das FAR ao exército oficial apenas exacerbaram a tensão entre os dois generais rivais.
Desta maneira, em 15 de abril, quando os dois deveriam reunir-se para dar continuidade às negociações, os dois preferiram recorrer às armas.
- Guerra longa à vista -
Para as negociações em Jidá, as FAR enviaram colaboradores próximos ao general Daglo e seu irmão Abderrahim, que financia os paramilitares graças a suas minas de ouro.
Do loado do exército participam vários oficiais de alto escalão conhecidos por sua hostilidade aos paramilitares.
A Liga Árabe, que marcou uma reunião dos ministros das Relações Exteriores dos países membros para este domingo, está profundamente dividida sobre a estratégia a seguir no conflito sudanês.
Analistas acreditam que a guerra será longa, porque as duas partes em conflito parecem ter as mesmas capacidades de combate e pouca vontade de negociar antes de uma vitória no campo de batalha.
Se a guerra demorar, a ONU alerta que até 2,5 milhões de pessoas a mais sofrerão fome, um flagelo que já afeta um terço da população do país, de 45 milhões de habitantes.
(F.Schuster--BBZ)