Líder do grupo Wagner nega que quisesse tomar o poder na Rússia
O líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, negou, nesta segunda-feira (26), em mensagem de áudio, que quisesse tomar o poder na Rússia. Ele disse que sua rebelião visava salvar sua organização e evidenciar os “graves problemas de segurança” no país.
Antes de o motim ser abortado, as autoridades russas fizeram de tudo durante o dia para passar uma ideia de normalidade, apesar do duro golpe que a tentativa de rebelião representa para a imagem do presidente Vladimir Putin, em plena contraofensiva na Ucrânia.
A rebelião de Prigozhin, um bilionário que já foi aliado de Putin, durou 24 horas e terminou no sábado à noite com um acordo entre ele e o Kremlin, após a mediação do presidente de Belarus, Alexander Lukashenko.
Nos áudios, suas primeiras declarações públicas desde o fim da rebelião, Prigozhin não revelou seu paradeiro. Segundo um acordo alcançado no sábado com o Kremlin, intermediado pelo presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, ele deveria se exilar em Belarus.
"O objetivo da marcha era não permitir a destruição do grupo Wagner e responsabilizar aqueles que, com suas ações pouco profissionais, cometeram um número considerável de erros durante a operação militar especial” na Ucrânia, afirmou na mensagem de 11 minutos.
De acordo com ele, a marcha de seus homens até Moscou “evidenciou graves problemas de segurança no país”, pois conseguiram tomar sem muita resistência o quartel-general do exército em Rostov e várias outras instalações militares. Eles percorreram 780 km antes de parar “a pouco mais de 200 km” da capital.
Se as forças do Wagner não avançaram mais foi, segundo Prigozhin, para não "derramar sangue russo". Ele também afirmou que não queria “derrubar o poder no país” e que o grupo recebeu o apoio dos civis com quem cruzou pelo caminho.
- Normalidade aparente -
Prigozhin voltou a afirmar que derrubou aviões da força aérea russa, o que não foi confirmado por Moscou. Vários blogueiros militares falaram de seis helicópteros destruídos e um avião de transporte.
Há meses, o líder do Wagner acusa o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior russo, Valery Gerasimov, de incompetência e de terem enviado dezenas de milhares de soldados para uma morte certa.
Segundo ele, o ministério tentou desmantelar o Wagner para absorvê-lo dentro do exército e depois bombardeou um de seus acampamentos, matando 30 pessoas, uma acusação que o exército russo nega.
O presidente russo apareceu nesta segunda-feira pela primeira vez desde o fim da revolta armada em um vídeo em que se dirigia a um fórum dedicado à juventude e à indústria, sem mencionar os fatos.
De acordo com o Kremlin, Putin também se reuniu com o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, e com o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad Al-Thani, que demonstraram seu "apoio" ao líder russo.
Putin não mencionou publicamente a rebelião desde seu discurso televisionado de sábado, no auge da crise, no qual acusou Prigozhin de traição.
O ministro da Defesa, que desapareceu durante a revolta do líder do Wagner, principal alvo de suas críticas, reapareceu nesta segunda em um vídeo inspecionando as forças russas na Ucrânia.
O grupo paramilitar também disse que sua sede em São Petersburgo (noroeste) está funcionando "normalmente", enquanto o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, indicou que os paramilitares continuarão suas operações no Mali e na República Centro-Africana.
A organização também retomou seu recrutamento em algumas regiões da Rússia, segundo a agência TASS.
Além disso, as autoridades anunciaram o fim do "regime de operações antiterroristas" na região de Moscou e de Voronezh, ao sul da capital, um sinal de retorno à normalidade.
- “Grande golpe” para Putin -
Mas nesta segunda, todas as agências de notícias russas anunciaram que a investigação criminal contra ele por “convocar um motim armado” seguia aberta.
Esta crise representa o maior desafio que Putin já enfrentou desde sua chegada ao poder, em 1999.
O motim do Wagner mostra claramente que o ataque à Ucrânia foi um “erro estratégico”, acrescentou nesta segunda-feira o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.
Muitos analistas apontam que a crise na Rússia poderia enfraquecer as forças russas no campo de batalha e beneficiar as de Kiev, que têm conduzido uma difícil contraofensiva há várias semanas.
A vice-ministra ucraniana da Defesa, Ganna Maliar, anunciou que o exército retomou 17 km2 das forças de Moscou, o que eleva o total de território recuperado para 130 km2 desde o início de junho.
(U.Gruber--BBZ)