TPI reabre investigação sobre crimes contra a humanidade na Venezuela
O Tribunal Penal Internacional (TPI) autorizou nesta terça-feira (27) seu procurador a retomar a investigação de supostos crimes contra a humanidade ocorridos na Venezuela durante o governo do presidente Nicolás Maduro, por considerar insuficientes os processos judiciais nacionais.
A Venezuela argumenta que as denúncias de violações dos direitos humanos registradas desde 2017, quando manifestações contra o governo deixaram mais de 100 mortos, devem ser resolvidas no âmbito de seu próprio sistema judicial.
Com sede em Haia, o TPI informou em comunicado que os juízes da Sala de Questões Preliminares desta jurisdição consideraram que, embora "a Venezuela esteja realizando algumas investigações, seus processos criminais nacionais não refletem suficientemente o alcance da investigação prevista". Por isso, os juízes decidiram autorizar o procurador Karim Khan a "reativar a investigação" sobre a situação naquele país.
"Quanto aos fatores que a Sala considerou determinantes para a sua conclusão, apontou que a Venezuela não parece estar investigando as alegações factuais que estão por trás dos elementos contextuais dos crimes contra a humanidade", indica o comunicado. "As investigações nacionais, no geral, parecem se concentrar nos autores diretos e/ou de categoria inferior."
O texto também destaca que "a Venezuela parece ter tomado medidas de investigação limitadas" e que, em muitos casos, "parece haver períodos inexplicáveis de inatividade investigativa".
Ativistas comemoraram na Venezuela a decisão do TPI. Ali Daniels, diretor da ONG Acesso à Justiça, descreveu-a no Twitter como "uma vitória para as vítimas". "As vítimas dos crimes continuam exigindo justiça, diante da impunidade do sistema nacional venezuelano", expressou, por sua vez, a ONG de defesa dos direitos humanos Provea.
Segundo o Estatuto de Roma, tratado fundador do TPI, um Estado-membro pode solicitar oficialmente que o procurador do TPI se limite a investigar o Estado no seu próprio território.
A Justiça venezuelana incriminou e condenou agentes das forças de segurança pela morte de manifestantes durante as manifestações de 2017 e por outras violações dos direitos humanos, mas os opositores do governo consideram que essas medidas foram tomadas unicamente para evitar um processo perante o TPI.
Em novembro de 2021, o procurador do TPI anunciou em Caracas, ao lado de Nicolás Maduro, que passava de uma investigação preliminar aberta em 2018 para uma investigação formal.
"Esta conclusão não impede que a Venezuela forneça material no futuro para permitir que a Promotoria ou o Tribunal determinem a inadmissibilidade com base na complementaridade", detalha o comunicado.
A Sala foi composta pelo juiz Péter Kovács, na qualidade de presidente, e por Reine Adélaïde Sophie Alapini-Gansou e María del Socorro Flores Liera.
(U.Gruber--BBZ)