Governo da Colômbia pede perdão inédito por execuções de civis por militares
O ministro da Defesa de Colômbia, Iván Velásquez, pediu, nesta terça-feira (4), perdão por um dos milhares de casos de civis executados por militares para inflar resultados durante o conflito armado interno no país, o primeiro ato governamental deste tipo.
"Peço desculpas em nome da Nação, à família e aos amigos de Alix Fabián Vargas Hernández e honro a memória de Jorge Vargas, seu pai, que faleceu sem conhecer a verdade do ocorrido com seu filho e produto da desídia do Estado colombiano", disse o titular da pasta em um evento no Museu Nacional de Bogotá, ao qual compareceram altos comandantes militares e parentes da vítima.
O ato aconteceu por ordem do Conselho de Estado, que condenou o Estado colombiano em 2018 pelo assassinato do jovem de 25 anos, que trabalhava como ajudante em um terminal de transporte e fazia a limpeza de um restaurante.
Vargas vivia em Tunja (centro), mas apareceu morto no município de Onzaga, a mais de 150 quilômetros de distância, supostamente em meio aos combates entre guerrilheiros e forças militares em 2008.
"Efetivamente, seu filho foi vítima de um desaparecimento forçado e depois foi executado", disse Velásquez à mãe da vítima.
A Jurisdição Especial para a Paz, que julga os piores crimes do conflito com as Farc, documentou mais de 6.400 assassinatos de civis por militares, que os apresentavam como guerrilheiros caídos em combate.
O presidente Gustavo Petro foi um dos maiores críticos da força pública por esses atos e exige que se esclareça a responsabilidade dos governos da época.
Conhecidas no meio militar como "falsos positivos", as execuções de civis ocorreram em sua maioria durante o período presidencial de Álvaro Uribe (direita), entre 2002 e 2010, e são o maior escândalo que envolve o Exército colombiano. Oficiais e soldados confessaram sua participação ao tribunal de paz, em busca de benefícios penais.
O Nobel de Paz Juan Manuel Santos já havia pedido perdão por esta prática em junho de 2021, quando, como ex-presidente, reconheceu que os falsos positivos ocorreram por causa da pressão que os militares receberam para "produzir baixas".
Na época, o ex-mandatário (2010-2018) disse que soube dos crimes dos militares apenas quando assumiu a pasta do Ministério da Defesa, em 2006, mas que deu pouca credibilidade a essas denúncias.
"Hoje é um dia no qual, finalmente, sua dignidade será limpa, uma dignidade que foi manchada pelos heróis da pátria que juraram lhe proteger", disse Diana Vargas a seu irmão falecido durante a cerimônia.
(G.Gruner--BBZ)