Ucrânia diz estar interrogando soldados norte-coreanos capturados
A Ucrânia anunciou neste sábado (11) que está interrogando dois soldados norte-coreanos que foram capturados em combate na região russa de Kursk, onde Kiev e seus aliados ocidentais dizem que há tropas de Pyongyang destacadas para apoiar as forças de Moscou.
Esta não é a primeira vez que a Ucrânia afirma ter capturado soldados norte-coreanos durante sua ofensiva em Kursk, mas é a primeira vez que afirma ter conseguido interrogar alguns deles.
Kiev não apresentou provas diretas de que os homens fossem norte-coreanos e a AFP não pôde verificar de forma independente a nacionalidade dos detidos. Nem Rússia nem Coreia do Norte reagiram a essas afirmações.
"Nossas tropas capturaram soldados norte-coreanos na região de Kursk. São soldados que, embora feridos, sobreviveram e foram levados para Kiev, onde estão conversando com investigadores do SBU", o serviço de segurança ucraniano, escreveu o presidente Volodimir Zelensky nas redes sociais.
O líder ucraniano acompanhou sua mensagem com fotos dos dois supostos soldados norte-coreanos detidos. Um deles tem bandagens nas mãos e o outro no queixo.
De acordo com Kiev, 12.000 soldados norte-coreanos, incluindo "cerca de 500 oficiais e três generais", estão posicionados na região russa de Kursk, onde o Exército ucraniano está conduzindo uma ofensiva desde agosto.
Rússia e Coreia do Norte aproximaram seus vínculos militares desde que Moscou lançou a invasão da ex-república soviética em fevereiro de 2022, mas nenhum dos dois países confirmou a presença desse contingente no conflito.
De acordo com Zelensky, a captura desses homens não foi fácil, pois "os soldados russos e norte-coreanos atiram em seus feridos e fazem todo o possível para apagar as evidências do envolvimento de outro Estado" na guerra.
As autoridades ucranianas não divulgaram nenhuma gravação de áudio dos prisioneiros, mas afirmaram que se comunicaram através de intérpretes coreanos, que trabalham "em cooperação" com o Serviço Nacional de Inteligência da Coreia do Sul (NIS).
- 'O mundo precisa saber' -
O mandatário ucraniano disse que daria aos prisioneiros acesso à mídia porque "o mundo precisa saber o que está acontecendo".
O serviço de segurança ucraniano afirma que a captura desses soldados é uma "prova irrefutável" do "envolvimento" norte-coreano no conflito.
De acordo com o SBU, um dos prisioneiros estava portando uma carteira de identidade militar "emitida em nome de outra pessoa", enquanto o outro não tinha documentos.
O serviço ucraniano divulgou um documento de identidade pertencente a um cidadão russo de Tuva, uma região da Sibéria que faz fronteira com a Mongólia.
A Ucrânia afirma que a Rússia esconde os combatentes norte-coreanos fornecendo-lhes documentos de identidade falsos de regiões onde há minorias étnicas.
"Os russos fornecem documentos a esses coreanos, mas não enganam ninguém", afirmou Zelensky.
Um prisioneiro de guerra disse que lhe entregaram sua documentação da região de Tuva na segunda metade de 2024, quando algumas unidades norte-coreanas assistiram a um treinamento de "uma semana" com efetivos russos, assegurou o serviço ucraniano.
O homem disse que acreditava estar "indo para treinamento, não para lutar em uma guerra contra a Ucrânia", de acordo com a SBU, que detalhou que o prisioneiro é um fuzileiro nascido em 2005 que integra as Forças Armadas norte-coreanas desde 2021.
O outro detido, que foi interrogado por escrito, pois tem um ferimento na mandíbula, afirma que nasceu em 1999, entrou para o Exército em 2016 e tinha formação como franco-atirador de reconhecimento.
De acordo com a mesma fonte, os soldados estão recebendo cuidados médicos e sendo mantidos em condições que "atendem às exigências do direito internacional".
No fim de dezembro, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, assegurou que "mais de mil" soldados enviados pela Coreia do Norte à Rússia morreram ou ficaram feridos em ataques na região de Kursk.
- Avanço russo no leste -
O conflito está em um estágio crítico com o iminente retorno de Donald Trump à Casa Branca.
O republicano, que assume o cargo em 20 de janeiro, disse na quinta-feira que estava preparando uma reunião com o presidente russo Vladimir Putin para "pôr fim" ao conflito.
Tanto a Rússia quanto a Ucrânia estão tentando a todo custo melhorar ou manter suas posições para possíveis negociações.
O Exército russo afirmou no sábado ter ganhado terreno a noroeste da cidade ucraniana de Kurakhove, um importante reduto industrial na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, que Moscou disse ter conquistado no início da semana.
A perda de controle da cidade não foi confirmada oficialmente pela Ucrânia.
As tropas russas, maiores e mais bem equipadas, progrediram lentamente, mas de forma constante, em 2024, mas sem conseguir grandes avanços.
(T.Burkhard--BBZ)