Operação Condor: o plano de terror lançado por Pinochet
Em meados da década de 1970, as ditaduras militares na América do Sul se uniram para perseguir e eliminar dissidentes da esquerda como parte de um plano secreto conhecido como "Operação Condor".
Centenas de pessoas foram assassinadas sob este sombrio programa apoiado pelos Estados Unidos em que participaram Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, sem contar as milhares de vítimas dos regimes militares em seus próprios territórios.
No 50º aniversário do golpe de Estado que derrubou o socialista Salvador Allende e colocou o general Augusto Pinochet no poder em 11 de setembro de 1973, revisamos a guerra secreta que o Chile e outros países travaram contra a esquerda.
- Epicentro na Argentina -
A maioria dos assassinatos e sequestrados pela Operação Condor foram presos na Argentina, onde muitos militantes de esquerda do Chile, paraguaios e uruguaios se exilaram, antes do governo de María Estela Martínez de Perón ter sido tomado pelos militares em 1976.
Em uma garagem em Buenos Aires, argentinos e uruguaios prenderam e torturaram centenas de dissidentes de vários países.
Em 2016, 15 ex-oficiais foram condenados na Argentina por terem participado destas atrocidades.
- Além das fronteiras -
Uma das origens da criação da Operação Condor remonta ao assassinato de Carlos Prats, ex-chefe do Exército chileno e ministro do governo Allende, junto com sua esposa em Buenos Aires, em 1974, após a explosão de uma bomba plantada em seu carro.
Em 2008, o ex-chefe da polícia política de Pinochet, Manuel Contreras, foi condenado no Chile.
Na mesma linha, o líder democrata-cristão chileno Bernardo Leighton e sua esposa sobreviveram a uma tentativa de homicídio em Roma em 1975.
Entretanto, o assassinato com maior repercussão foi o de Orlando Letelier, ministro das Relações Exteriores do governo Allende, e seu assistente americano Ronni Moffitt, também diante da explosão de uma bomba acoplada a seu carro.
Todas estas ações foram organizadas pela polícia política de Pinochet, a Direção Nacional de Inteligência (Dina, na sigla em espanhol).
- Origens no Chile -
A Operação Condor foi criada no Chile, em novembro de 1975, quando Contreras convocou uma reunião com chefes de inteligência de outras ditaduras sul-americanas em Santiago.
O ex-chefe da polícia política recebeu sua primeira condenação em 1995, por sua participação em vários assassinatos. Morreu na prisão aos 86 anos, após condenado a 529 anos por múltiplas denúncias por tortura, sequestro e assassinatos.
Pinochet, que morreu em 2006, não foi julgado por este programa nefasto ou por outros crimes contra a humanidade.
- Aval dos Estados Unidos -
Os Estados Unidos souberam da Operação Condor por anos e não se opuseram à ela, à medida que consideravam as ditaduras sul-americanas um alicerce contra o comunismo.
"Se há coisas que precisam ser feitas, devem ser feitas rapidamente", disse o então secretário de Estado, Henry Kissinger, ao ministro das Relações Exteriores da Argentina, César Augusto Guzzetti, em 1976, dando-lhe luz verde para acabar com a oposição, segundo documentos americanos.
Em uma visita à Argentina em 2016, o então presidente Barack Obama admitiu que os Estados Unidos foram "muito lentos" para condenar a ditadura argentina, mas não chegou a pedir desculpas.
- "Arquivos do terror" -
Os detalhes da Operação Condor só foram conhecidos no início de 1990, após a descoberta de uma série de documentos no Paraguai, conhecidos como "Arquivos do terror", que continham informações sobre a colaboração entre os órgãos repressivos da América do Sul.
Documentos desclassificados pelos Estados Unidos posteriormente lançaram luz sobre o papel de Washington nesta operação.
(L.Kaufmann--BBZ)