Brasil não vai evitar debate sobre combustíveis fósseis na COP30
O Brasil não vai evitar o debate sobre o abandono progressivo dos combustíveis fósseis como anfitrião da COP30 no próximo ano, apesar de ser um grande produtor de petróleo, afirmou à AFP a secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente.
Ana Toni disse que o Brasil quer estimular um "debate" global sobre como transformar a prometida redução gradual dos combustíveis fósseis em ação, incluindo possíveis impostos sobre o carvão, petróleo e gás.
"Esta deve ser uma transição justa para interromper os combustíveis fósseis", disse Ana Toni em uma entrevista à AFP durante a COP29 no Azerbaijão.
"Nunca evitaremos discussões tão importantes porque são do nosso próprio interesse", declarou.
A COP30 acontecerá em 2025 na cidade de Belém (Pará) e será a terceira reunião de cúpula consecutiva sobre negociações climáticas da ONU em um país que planeja expandir a produção nacional de combustíveis fósseis.
O Brasil, maior produtor de petróleo da América Latina, sucederá a COP29 no Azerbaijão, país rico em petróleo e gás natural, e a COP28 do ano passado nos Emirados Árabes Unidos.
Alguns líderes da luta contra a mudança climática pediram na semana passada que as COPs não aconteçam mais em países que não apoiam a eliminação gradual de sua própria produção de combustíveis fósseis, os principais fatores do aquecimento global.
Ana Toni, que já foi consultora do Greenpeace e da ActionAid, disse que o Brasil sempre foi um defensor da causa climática e continuará "liderando pelo exemplo".
"Fomos os primeiros a dizer: vamos parar com o desmatamento. E faremos o mesmo com os combustíveis fósseis", disse Toni, que também lidera a delegação do Brasil na COP29.
"Mas esse acordo precisa ser feito em conjunto com os outros países, e o Brasil vai ter um papel muito, muito importante na pressão para conseguir que outros países o façam".
- Nada a provar -
Quase 200 países concordaram no ano passado, na COP28 de Dubai, com o abandono progressivo dos combustíveis fósseis.
Mas o consumo de carvão, petróleo e gás atingiu níveis máximos em 2024 e os esforços para avançar na transição enfrentaram a oposição política na COP deste ano em Baku.
Toni disse que o Brasil compartilha "contradições" semelhantes às dos Estados Unidos e da Noruega, ambos produtores de combustíveis fósseis, que também defendem cortes nas emissões globais.
Ela disse que o país pressiona outras nações a considerarem como enfrentar o uso de combustíveis fósseis por meio de impostos ou do fim dos subsídios.
Antes da COP30 em Belém, todas as nações devem apresentar planos atualizados para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa.
No mês passado, a ONU alertou que os planos nacionais atuais estão "muito distantes" do necessário para evitar as consequências graves das mudanças climáticas.
Antes da COP29, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que reduziria as emissões de forma mais drástica do que havia antecipado.
Ativistas ambientais afirmam que o Brasil ainda não fez o suficiente, mas Ana Toni defende que o país tem o plano mais ambicioso de qualquer nação em desenvolvimento.
"Não temos nada a provar a ninguém", disse.
Antes da COP30, no entanto, ela deve ajudar a acabar com o impasse na COP29, onde foi designada ao lado do secretário de Estado para Energia do Reino Unido, Ed Miliband, para conseguir um acordo de financiamento até sexta-feira (22), data de encerramento da cúpula.
A brasileira alerta que não alcançar um acordo sobre o financiamento da transição energética e das adaptações climáticas para os países em desenvolvimento pode esvaziar a ação climática global.
"Isso é exatamente o que não queremos que aconteça. Portanto, o sucesso da COP30 depende do sucesso de uma boa COP29", afirmou.
(P.Werner--BBZ)